Candidatas aprovadas receberão premiação de R$7 mil; inscrições vão até 27 de abril
O coletivo e casa de arte Alumiar, em conjunto com a Secretaria da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, seleciona artistas mães para o “Programa de Residência Artística Ressoar – 1ª edição: artistas mães”. Podem concorrer ao edital artistas gaúchas ou residentes no Rio Grande do Sul há pelo menos dois anos, que buscam oportunidade para desenvolver suas pesquisas no âmbito das artes visuais e contemporâneas, em diálogo com o território, seu meio ambiente e os conhecimentos tradicionais.
Três artistas mães serão selecionadas a partir da avaliação de portfólio e de carta de interesse. Entre as vagas, uma é destinada para artista mãe negra, uma para artista mãe indígena, e uma vaga para artista mãe de livre concorrência. Cada uma das contempladas receberá uma bolsa de incentivo no valor de R$7 mil e ficará em residência artística de 28 de julho a 3 de agosto no Recanto Carahá, em São Lourenço do Sul.
“Ressoar” visa construir experiências e diálogos entre artistas, comunidades e território. Para isso, as residentes passarão por vivências em três comunidades tradicionais: junto à aldeia Mbyá Guarani Tekoá Tavaí e à família Gonçalves da Pecuária Garupa, em Cristal; e ao ponto de memória Quilombo Maria Lina, em São Lourenço do Sul. A intenção é inserir as artistas selecionadas em tais contextos culturais para desenvolverem e aprimorarem suas pesquisas artísticas e seus processos de criação e experimentação.
Segundo Ana Flor, proponente do projeto e integrante do coletivo e casa de Arte Alumiar, a escolha pelos locais se deu tanto pela equipe já ter inserção nos espaços, quanto pela busca de possibilitar uma formação decolonial, com a valorização de saberes locais. “É uma formação não acadêmica, trazendo assim uma perspectiva de que o saber popular é valioso, pode e deve enriquecer as nossas perspectivas de mundo. E isso impacta no trabalho de quem está fazendo uma produção artística: a nossa produção não pode ser desconectada com a realidade do mundo que a gente vive e das questões que são caras a serem debatidas nesse sentido”.
No início da residência, as artistas também receberão uma formação presencial no Recanto Cahará oferecida pela artista Catiuscia Dotto, intitulada “Desfloración: do corpo poético ao corpo em resistência”. Durante toda a imersão, as residentes serão acompanhadas pela curadora-orientadora Ana Flor, que irá propor e estimular reflexões sobre suas pesquisas e os territórios simbólicos que ocupam. “A gente quer fomentar uma perspectiva diferente de obra de arte, de pensamento do campo artístico, trazendo uma visão menos colonizada dos nossos saberes, das nossas visões e até dos nossos quereres”, destaca.
Ao final do período, as residentes realizarão uma roda de conversa com artistas locais e farão um relatório das atividades desenvolvidas, cuja divulgação ocorrerá virtualmente nas redes sociais (Instagram: www.instagram.com/alumiar_atelie / Facebook: www.facebook.com/Alumiar) e no site do Alumiar (www.alumiar.art.br). O objetivo, com a roda de conversa, é estimular visões, modos de fazer e de pensar a arte entre artistas locais e artistas que estão vindo de outras localidades.
Como se inscrever?
As inscrições são gratuitas e acontecem do dia 22 de março até o dia 27 de abril, devendo ser feitas exclusivamente pelo Mapa da Cultura, portal vinculado ao Governo Federal, no link: https://mapa.cultura.gov.br/oportunidade/5620 . Quem ainda não tem cadastro no site, deve fazê-lo antes de submeter sua inscrição na Residência Artística. No mesmo site, as candidatas poderão acessar o edital na íntegra, com os critérios de avaliação e a documentação necessária para a inscrição.
Visibilidade e desenvolvimento das carreiras de artistas mães
Ana Flor explica que a ideia para a realização da Residência Ressoar é coletiva e surgiu quando ela e o companheiro, Fábio Abbud – ambos pais, artistas visuais e produtores culturais - receberam uma Bolsa de Mobilidade Artística da Fundação Nacional de Artes (Funarte) em 2023. Na oportunidade, o casal precisou se deslocar até Santa Fé, na Argentina, para realização das atividades que integravam a Bolsa de Mobilidade. Nesta ocasião, afirma que vieram à tona reflexões sobre os lugares que ocupa (ou não) uma artista mãe no campo da arte.
Foi assim que buscou a realização de uma iniciativa que propõe habilitar liberdades, direitos e formas de corpos femininos e maternos habitarem igualitariamente o campo social. Com foco no apoio à visibilidade e ao desenvolvimento da carreira de artistas mães, as selecionadas para a Residência Ressoar poderão optar por trazer ou não seus filhos. Aquelas que trouxerem, terão a possibilidade de trazer também uma pessoa de sua rede de apoio ou contar com cuidadoras capacitadas enquanto realizam atividades formativas. Durante a semana, também serão oferecidas três oficinas artísticas às crianças.
Conheça mais sobre Ana Flor, proponente da Residência Artística – Ressoar
Desde 2011, Ana Flor gerencia o Alumiar Casa de Arte, único espaço cultural independente dedicado às artes visuais na região centro-sul do estado gaúcho. É Conservadora e Restauradora de Bens Culturais Móveis pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). É co-criadora, curadora e produtora do Salão Costa Doce de Arte Contemporânea, edições 2021 e 2022. É idealizadora, produtora e curadora da Residência Artística – Ressoar, edição para artistas-mães em 2025. Articulou a criação e presidiu o Conselho Municipal da Cultura de Cristal entre 2017 a 2021, sendo a primeira presidente do conselho. De 2015 a 2022 foi oficineira de Artes em projetos sociais, centros de convivência e fortalecimento de vínculo e grupos da Rede de Atendimento Psicossocial. É Agente Territorial de Cultura do Programa Nacional dos Comitês de Cultura do Ministério da Cultura (MinC) e atua no apoio a mulheres trabalhadoras da cultura para participação nas políticas públicas e nos ambientes de participação política. Coloca-se a serviço das causas político-afetivas e é militante da democratização do acesso à cultura.